quarta-feira, 20 de maio de 2009

12 exemplares

A idéia inicial de 12 exemplares foi de colocar em circulação o livro de poemas cantos de estima por um meio que não fosse virtual e nem institucionalmente estabelecido, concebendo sozinha e artesanalmente a primeira edição do livro cantos de estima, em tiragem primeira de 12 exemplares.

(Por acasos, os 12 viraram 14.)

Cada um desses exemplares foi dado a uma pessoa por mim considerada como singular, gente da minha simpatia pessoal e do meu respeito pelo trabalho. Nem todas se conhecem entre si, nem todos são propriamente meus amigos, a maior parte deles vivem em São Paulo, outras no Porto e uma delas em Paris.

Divergem entre si nas idades e profissões, mas cada uma é a seu modo ligada às artes. Foram todas convidadas previamente, com a proposta de que fizessem alguma coisa com o exemplar e/ou com o gesto que recebiam, intervindo na própria edição ou praticando algo externo a ela. Por “coisa” entendo qualquer ação que implique um fazer, artístico, intelectual, manual.

Os livros foram entregues por mim entre novembro de 2008 e janeiro de 2009. A primeira resposta que tive em mãos foi no dia 6 de abril. Até hoje, dia 20 de maio, tenho 6 trabalhos completos comigo e as promessas de que os outros estão chegando. Nos próximos tempos vamos realizar uma exposição e um livro de respostas juntando os trabalhos dos convidados com os poemas originais.

os convidados

Os exemplares são numerados e pertencem:

01
Ilana Lichtenstein
Nasceu em São Paulo, em 1986. É fotógrafa e escritora, graduada em Relações Internacionais pela PUC. Atualmente vive em Paris, estuda filosofia. Quando ela voltar, tomaremos um chá antes da minha mudança. Seu trabalho fotográfico pode ser visto em liriade.

02
Cristina Regadas
Nasceu no Porto, em 1977, onde vive. É artista visual e foi quem me apresentou Portugal na cor vermelha. Licenciada em Artes Plásticas pela Universidade de Belas Artes do Porto, na vertente de escultura. Também estudou no departamento de fotografia da École Superieure Artistique "Le 75". Seu site é cristinaregadas.com e há também o sempre condunte eiikii.

03
Manuel Santos Maia
Artista plástico português, nascido em Nampula, Moçambique, em 1970. Vive no Porto. Licenciado em pintura pela Universidade de Belas Artes do Porto, atualmente é doutorando no Doutoramento "Modos de Conhecimento na Prática Artística Contemporânea" na Universidade de Vigo. É também educador e comissário de exposições, cujo trabalho pode ser visto em josé maia. Os projetos do artista plástico podem ser vistados em manuel santos maia.

04
Carla Filipe
Nasceu em Requeixo, Aveiro, em 1973. Vive e trabalha no Porto. É artista plástica, licenciada em escultura pela Universidade de Belas Artes do Porto e é mestre em "Práticas Artísticas Contemporâneas" pela mesma faculdade. Um pouco de seu trabalho se apresenta em Carla Filipe.

04a
Arturo Perez Gamero
Poeta, nascido em Santo André, em 1980, é também estudante de Filosofia na Universidade de São Paulo. É casado com a Andrea Aly, do exemplar 08.

05
Vera Egito + Marion Hesser

as duas artistas trabalharam com um mesmo exemplar e se apresentarão numa só resposta.

Ambas nasceram em SP, a Vera em 1982 e a Marion em 1984, como eu. A Vera é cineasta, formada em Audiovisual pela ECA - USP. Está em fase de montagem do seu 3o curta metragem como diretora e co-roteirista, o 25 (2009). Os dois anteriores são Espalhadas pelo Ar (2007) e O Elo (2008). Para exibição do Espalhadas. A Marion é formada em Relações Internacionais pela PUC - SP, estuda Filosofia na USP e é bailarina.

06
gUi mohallem
Mineiro de Itajubá, nascido em 1979, vive em São Paulo. Formado em Cinema e Vídeo pela ECA- USP, é fotógrafo. Desenvolve o projeto ensaio sobre a loucura onde apresenta retratos através da técnica do pinhole digital e fragmentos de entrevistas dos retratados, explorando as margens da loucura nas próprias vidas. Dos convidados, ele é o único que eu não conhecia para mais de três palavras. O site do gUi é guimohallem.com e há também o seu flickr.

07
Marcos Antonio de Moraes
É crítico literário, meu professor. Doutor e pesquisador na área de literatura brasileira da Faculdade de Letras e do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, seu currículo pode ser acessado na plataforma Lattes.

08
Andrea Aly
É artista plástica, ilustradora e professora. Entre a minha entrega do exemplar para ela e a resposta que ela me deu, nasceu a Clara, filha também do Arturo. Uma parcela do seu trabalho pode ser vista aqui.

09
Eva Uviedo
Nasceu em maio, na Argentina. É paulistana, ilustradora.

09a
Flavio Tris
Vive em São Paulo, onde nasceu em 1981. É advogado, mestrando em direito e músico. É leonino e compositor.

10
Marcos Visnadi
Meu companheiro de armas e alegrias. É escritor e crítico literário.
Formado em Letras pela USP, foi professor de surdos e vendedor de livros. Na internet, atualmente o Marcos divide suas atividades entre o quase resenha e o atlás atras.

11
Alfredo Pimenta
Nascido em 1950, em São Paulo, arquiteto de profissão, recusou a Universidade Mackenzie de Engenharia em 1972, faltando um ano pra terminá-la e, nunca diplomado, sempre trabalhou como arquiteto, particularmente voltado à projetos de restaurantes, hotéis e casas noturnas. Foram projetados por ele lugares como o Radar Tantã, o Aeroanta e o restaurante a Lanterna. O modo de conseguir falar com ele é por telefone: 11 3062-4276.

12
Clarisse Valadares
Nasceu em 1991, em Belo Horizonte. Vive em São Paulo, onde atualmente trabalha como barista no Starbucks. É a mulher do meu melhor amigo. Foi a 1a. a conhecer o Lero.

o livro

para ver o cantos de estima clique

terça-feira, 19 de maio de 2009

como aconteceu

Após três meses viajando de trem pela Europa, dormindo em camas de quartos coletivos em albergues, conversando desconhecidos e vivendo a céu aberto na maior parte do cotidiano, encontrei-me de volta em casa, em São Paulo, esse mastodonte, precisando unir as partes, paisagens, estimas.

Foi uma espécie de precipitação e, se chuva fosse, só de maneira pouco científica eu poderia explicar um pouco da atmosfera. Sentia uma força e energia tão implacáveis, que se eu não as aplicasse em um objeto, em fúria destrutiva me lançaria pela estratosfera. Ao mesmo tempo, percebia que pela primeira vez eu tinha um conjunto de textos que tinham sido feitos para vir ao público.

Quando dei por mim, um pequeno livro estava feito: eu tinha escolhido textos de escritos imediatamente antecedentes à viagem, cortado trechos dos diários nela feitos e acabava por ter criado novos textos para fecharem um caderno de poemas, datilografado na máquina de escrever e costurado à mão.

Inventei o título, arranjei a epígrafe, tudo muito rápido, de maneira que aconteceu na seguinte forma (o acaso da mais crua forma do objeto depois contribuiu, gosto de supor para direcionar os convidados aos textos): em sulfite, formato A4, datilografados numa Olivetti, costurados com agulha e linha, tendo a capa e a contracapa em um papel de gramatura maior e cor próxima do avelã. Como a digitação fere o papel, não quis que os poemas ficassem marcados pelos versos do anterior, optando assim por uma folha para cada texto, costurando em duplas as páginas do lado direito com linhas brancas e, no lado da lombada, uni todas as páginas por fora e em linha vermelha, com título não na capa, mas na folha de rosto: cantos de estima.

Foi só com o 1º exemplar pronto que interpretei a sensação de presente: “quero dar isso pra alguém”. Mas quem? Ser uma peça única poderia tanto asfixiar, como indeterminar quem o recebesse, ou terminar em ser um bibelô numa estante, empoeirando, e a troca com quem o recebesse seria, no máximo, uma opinião crítica/afetiva quanto aos textos.

Somado a isso, a solidão que eu tinha experimentado de trocar de país e de língua a cada três, dez, no máximo 15 dias, me aumentava a valorização de uma das coisas em que acredito: a intimidade. E a intimidade, como tento entendê-la, é uma qualidade possível do convívio mútuo entre as pessoas, mas pode ser também com um animal (um gato, um cão, crocodilos não sei não) ou ainda por objetos inanimados ou representações, no modo de como confortavelmente nos habituamos com os nossos próprios objetos, visões, fazeres. E então, nos casos dos convidados com os quais tenho pouca intimidade, acreditei que a vontade de querer sê-lo por algum ponto do trabalho, do contato, podia me produzir com a liberdade do convite.

Ao que determinei pela atividade que me propunha a fazer um número maior do que 10: 12 exemplares. Cortei uma lista de umas 25 pessoas até chegar nos 12 que convidei. Todos aceitaram de imediato.
 

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